sábado, 28 de janeiro de 2012

Crónica: Passos de Magia

Dizem os sábios glossários da língua de Camões que, por definição, Política é a “ciência ou arte de governar uma nação”, que enquadrará princípios de elevada postura de estado e superior conhecimento, para que, os “destemidos” escolhidos possam, de forma desinteressada e por compromisso com os desígnios do interesse público, sacrificar a sua vida pessoal a um empreendimento altruísta, apenas ao alcance de alguns considerados excecionais.

Ora, em Portugal, estes princípios e definição foram “ligeiramente” alterados, passando a abarcar uma abrangência restrita, limitada aos eleitos licenciados e especializados em “Chico-Espertismo”; trata-se de uma ciência desenvolvida até ao mais ínfimo pormenor no retângulo portugalês, própria de ativistas com abnegado amor pelo umbigo próprio que, ao longo dos últimos 35 anos, tomaram conta das rédeas do poder, de forma democrática e, aplicando as regras e leis de polvo que em sede própria e com controlo autónomo, foram desenvolvendo, implantaram um sistema que legitima as suas atividades mafiosamente regulares. Trata-se de um sistema infantilmente complexo que, de forma quase generalizada, permite aos nossos políticos funcionarem como associações de malfeitores, onde impera a corrupção, clientelismo, tráfico de influências, alienação e apropriação de bens públicos, desvio, peculato, para não falar nas perigosas e univocamente irreversíveis ligações ao poder empresarial e financeiro. Esta maneira de estar na política é transversal e inclui desde o mais destacado dirigente que, depois de ministro, passa a gerir a mais poderosa empresa de capitais públicos, até ao mais humilde secretário de junta de freguesia que, por motivos de justificada razoabilidade, desvia para proveito próprio dois sacos de cimento e um agrafador.

Fonte: magazon.netmadeira.com
É neste contexto de malha reduzida que o lobby financeiro foi apertando o cerco e ultrapassou a capacidade decisória do poder político, tornando-o refém de compromissos acumulados de mega investimentos falhados, de opções armadilhadas, de infraestruturação desajustada e desnecessária e de financiamento de uma gestão faustosa, engalanada com benesses, direitos e regalias com dimensão muito superior às da reposição, face à capacidade produtiva dos comuns “subjugados”, de quem depende a criação de riqueza que outros gastam. Atingiu-se, assim, por total incompetência da classe política, a incontornável subjugação ao poder financeiro, ao valor do capital, ao peso dos números dos gráficos e escravidão aos índices de crescimento. 

Somos, portanto, conduzidos a uma situação de ruína próxima do estado da nação, ao colapso final do estado social, ao regresso da miséria visível, à potenciação da estratificação social e, numa ideia base, ao fim das esperanças modestas do cidadão comum, que vê o céu cair-lhe em cima por força de deuses humanos, parceiros nas limitações, mas superiores nas origens de geração “Chico-Esperta”
 
Surge, então, a nova esperança, perdão, a pseudo-esperança, alicerçada no ressurgimento de novos políticos, novas eleições, novos ideais, novo mediatismo, novo “desta-vez-é-que-vai”; em vão, a conversa é a mesma, o circuito é igual, a absorção dos defeitos é imediata, a ambição desmesurada é superior, a pressão dos lobbys é intransponível, a qualidade humana é inferior e, rapidamente, impera a repetição de círculo e a criação de nova geração de políticos Chico-Espertos

A solução estará, quiçá … no fim dos políticos,… na redefinição do termo política,… na rebatização dos Chicos sem sobrenome de Espertos, elegendo a anarquia nacional e internacional como sistema, esquecendo que a Globalização apagou todas as hipóteses conhecidas e anulou todas as esperanças de autonomia, fora dos equilíbrios acorrentados que impõe. 

O que resta então? Nada … seremos mais um vagão alinhado nos carris de um sistema Global que já ninguém domina nem controla que circula ao sabor da desordenação da ambição do Homem.
Mas…em Portugal, continuarão a ressurgir Coelhos de Cartola que, com Passos de ilusionismo de feira, continuarão a convencer o “rebanho” de que o futuro é risonho e dependerá apenas da sua varinha mágica de marca ALEMÃ.
O estado da política em Portugal?... Nunca foi um Estado e seria ótimo que nunca o viesse a ser…

Sem comentários:

Enviar um comentário